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quarta-feira, 26 de maio de 2010

Fera Ferida

Por Cyberella

E mais uma palavra surge, inesperada, entre nós dois: ANIMAL. Tudo o que você não foi e desejei ardentemente que fosse.

E hei-nos aqui ainda uma vez mais, diante de nossos dilemas existenciais, nossas fendas profundas, distâncias intransponíveis, diferenças abismais.

Chegamos ao cerne de nossos embates domésticos diários: eu querendo despertar teu lado animal e você, inutilmente, tentando aplacar a fera instintual que sou eu, especialmente nas noites quentes de lua e de mar.

Eu, o eterno animal, fera radical, mais para fera do que para racional; mais fêmea que mulher; mais bicho do que gente; mais instinto do que razão; mais odalisca que intelectual. A loba que lambe as feridas e uiva para a lua. Pés no chão e cabeça nas nuvens, como você bem sabe. A que mata e esfola pelas crias e pelas idéias.

Eu chupo o sangue direto da jugular. Entro no cio e pressinto teus anseios só pelo cheiro. Me lambuzo de esperma e durmo o sono dos anjos. Sobrevivo pelos meus instintos e pelos meus sentidos. Sou faro, visão, audição, apetites... Pele, cheiros e secreções. Sou risos e gargalhadas. Ritmos e cores. Ritos e rituais. Silêncios e meditações. Abismos profundos... Guizos e solidão.
A fêmea mulher.

Você se barbeia na hora certa, assobiando uma bossa-nova todas as manhãs. Nunca se esfola. Cumpre todos os compromissos e nunca se atrasa. Descasca meu mamão e me faz o ovo poché. Eu me maltrato e você me traz a erva-doce. Enquanto confiro minhas próprias formas debaixo das cobertas, você apara as unhas no banheiro. Do quarto ouço teu assobio despreocupado. Haja o que houver, a agenda será cumprida. Os lápis serão apontados, cuidadosamente, um a um à lâmina do estilete e ninguém mais poderá tocá-los. E as contas jamais serão esquecidas. Eu sufoco. Você lê as notícias em voz alta. Quero sempre mais. Você me serve a laranjada.

Sou atrevida, maluca, pirada. Deixo um bilhete safado no meio dos teus relatórios. Faço de propósito, só para te enlouquecer um pouco mais. Me diverte imaginar tua cara sem graça descobrindo meus desejos lascivos em meio a reuniões de diretoria.

“Senhores, estamos aqui para fechar o orçamento da obra, conforme nosso planejamento... um momentinho... um bilhetinho... hã hã hã ... como ia dizendo....”

Você me liga, puto da vida. Nem ligo.

E o que fez do teu tesão bem–educado, bem-comportado, bem-disciplinado, o teu tesão de menino-de-família-de-escola-de-engenharia? Tesão Pavlov, com dia e hora certos para jorrar.

Eu sempre soube de você, das tuas fraquezas, mas te perdoava por elas, achando que amar é ir além das fraquezas e por que eu mesma as tenho tantas. E de quê adiantou perdoar teus defeitos, se no final quem se ferrou fui eu, de toute façon ?
Você não suportou a alegria das sextas-feiras cheias de libido, nem a angústia dos domingos que se encerram lá atrás dos morros, vermelhos e preguiçosos. A tua alegria era o prazer pronto, desses a que a gente tem direito em bandeja de prata de hotel cinco estrelas.

E foi o que te sobrou: as estrelas, dos hotéis e dos talões de cheque.

Eu? Estou aqui, lambendo as feridas.

Com ressentimentos,

Eu.

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