Apresentação

Bem-vindo ao meu blog. O Intimus Bel quer que você participe de minha vida íntima de forma pública. Conto com você pra não contar pra ninguém o que você lê aqui.


domingo, 6 de junho de 2010

Atrás da porta


Por Cyberella

Foi tudo tão de repente...
Eu estava ali no closet, debruçada sobre mim mesma, esfregando o creme nas coxas. A toalha ainda enrolada no corpo e o turbante protegendo os cabelos molhados, quando senti tua boa em meu pescoço. A princípio, me debati, tentei fugir, tentei fingir...
Depois, aquela língua mole, quente, deslizando pela nuca, os dentes duros mordiscando-me os ombros, a boca me devorando, os lábios me sugando... Os ombros, a nuca, o pescoço, os braços... Eu me retorço, você é ágil, me segura firme. Eu luto, tento, quero sair do abraço, você é forte, prende-me com o braço em volta da minha barriga e a mão esperta já solta o nó da toalha. Ela cai, eu me contorço. Estou inteira. Toda nua. Toda sua. Estou mole. Estou molhada. Meu pescoço gira sobre os ombros, minha cabeça bamboleia, minha espinha se dobra e minha bunda se empina. Ok, você venceu.
Sou de novo a égua no cio que empina o rabo pra monta do macho. Procuro tuas coxas pra me apoiar, você me aperta o mamilo e escorrega a mão ágil pela cintura. Lá estão eles, meus lábios carnudos, os lábios carnudos, inchados, incandescente, molhados, latejantes, esfomeados... Lábios prontos para te devorar... Os lábios que você procura.
Foi você quem quis assim, não foi? Quem foi que invadiu meu closet, que me agarrou pelas costas, que me pegou de surpresa? Quem me mordeu a nuca, quem me lambeu o cangote e me roubou as forças? Foi você quem quis, não foi?
Pois agora, quem quer sou eu.
Seguro tuas coxas, procuro teu pau, me apoio em você. Lá está ele. Abro o teu zíper, puxo-o pra fora. Grande, duro, rijo, quente e completamente louco de vontade. É assim que te quero. Completamente louco.
Eu me empino um pouco mais, você abre caminho entre minhas coxas. Diante do espelho, vejo a cabeça que vem de lá de trás e se esfrega toda em mim, vermelha e poderosa. Você vai e vem, e vai e vem... Me segura pela cintura e lambe minha espinha. Belisca meu mamilo e acaricia meu sexo. Eu me ofereço, quero mais... mais... mais... mais...
- Me segura, me segura, me segura, eu vou cair eu vou cair... Eu vou ca...
- Seu closet é tão bonito, tão perfumado, todo arrumadinho... Ele é tão a sua cara... Este tapete é tão macio... Só você seria capaz de um tapete lilás... kkkkkkkkkk...
- Aqui é meu esconderijo secreto. Entrada proibida para menores de 60 anos. Você já tem 60?
- Já tenho 61. Posso tomar banho no seu banheiro?
- Só se eu puder tomar junto...
- Você esfrega minhas costas?

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Desencontros da Net

Por Cyberella

Bom, e agora? Tem a camiseta preta – perfeita! mas muito colada, minhas formas ficam muito exuberantes, os peitos vão chegar antes de mim. A bata branca? - é linda! mas um pouco linda demais – não pega bem num primeiro encontro. Tem o top verde-água – huummm, ideal! Nada disso, não quero meus peitos na prateleira esta noite. (Não sou uma confeitaria aberta ao público. Ele vai ficar olhando p´ros peitos e esquecer de mim.) A camisa branca? Perfeita, perfeitíssissima! Camisa branca de linho e jeans? – muito casual para hoje. E se ele vem de terno? Eu de jeans e ele de terno? Caramba! E se ele vem de jeans e eu tô très chic? Ai, meu deus! Ponho um jeans? Uma saia? Não, minhas pernas estão muito brancas... Peraí, este top branco com esta calça verde musgo fica bom. Acho que tá na medida, nem muito chic nem muito casual. Se ele vier de jeans, ou de calça esporte ou de terno, tá tudo certo. Meu, está na medida! Bingo!!!
Calça verde musgo, top branco e sandália fendi. Uauuuuuuuu! Ficou legal.

Eu tô legal!! Esse brinco e esse colar? Deixe-me ver...Tá bom, é isso mesmo. Tá perfeito!! Nada de perfume.

Que droga é não enxergar nada sem óculos, como posso pintar os olhos sem óculos?
Deixe eu ver?? Tá bom, parece que não está borrado. Meu senso estético diz que está bom. Por que diabos este encontro é à noite? Não seria bem melhor de manhã, ou no almoço? Eu ia de bermuda e camisa e de cara lavada, era bem mais eu. À noite todos os gatos são pardos ... odeio isso, quero ser eu mesma, nada de “gato pardo”.

Senhor! Meu pai, olha ele ali. E agora?? Será que eu tô bonita?

Você está nervosa? Quem, eu?!!!! De jeito nenhum! Você é que disse que estava nervoso. Mentira minha, estou super nervosa. Não estou nervosa, estou hiper nervosa.

E aí, muito ruim minha voz? (Não, não, eu não tenho a voz rouca andrógina da Maria Bethânia, nem o timbre da Gal, nem a delícia da Zizi Pozzi. E sou diferente das fotos, sim, mas eu já tinha avisado que era melhor em fotos do que na realidade. Sim, é verdade, eu sou diferente pessoalmente. Sou mais bonita nas fotografias. Eu disse que era muito fotogênica.)

Esse band-aid? Bom, eu perdi a unha, ela caiu mesmo, então, agora está crescendo, e está muito feia, então uso o band-aid, para esconder. Não, não doeu nada. Não, não está roxa, está feia mesmo. Só feia demais. Por isso o band-aid. (Ai, que vontade de dar um beijo na tua boca.)

Gostou desse lugar? É gostoso aqui, não é? Acho aqui melhor do que o Livorno. Ah, você se casou na Igreja Dom Bosco? Conheço, claro. Sim, era bem pequena, foi reformada sim, cresceu muito. Viu como o bairro mudou? Pois é, não é mais o mesmo. Verticalizou muito. A casa do seu irmão era logo ali? Sei.

Um vinho tinto? Sim, claro. Um tinto. O Filho da Noiva? Sim, eu vi. – “ é sempre bom ter um vinho branco, sempre pode aparecer alguém de mau gosto”...rs ... Um mix de frios? É ótimo. Perfeito!

Eu vi Pânico no domingo, com meu filho. Ri demais. Adoro Pânico, eles são muito engraçados. Sei, a Sabrina Sato e os meninos do Pânico cobram um cachê alto? (Sorte deles. Eu tô sem grana! Ai, que pânico!!! Quando estarei empregada de novo?)

Você não está mal acomodado nesse lugar? Está na passagem, me dá a impressão que você está mal acomodado. (Por que não senta aqui ao meu lado, neste sofá? Tô odiando esta mesa entre nós dois.)

Os Narradores de Javé. Não viu? É muito bom, com o carinha que fez o Auto da Compadecida, sabe aquele baixinho, que faz dupla com o Selton Mello. É esse mesmo! Veja, é muito engraçado mesmo. A história é assim ...
(Ai, não chaga tão perto assim, que perigo. Estou me controlando para não pular em cima de você. Tua boca está no seguro??)

O Sebastião Salgado está mesmo muito chato sim, sempre com a mesma temática da miséria humana, e o Milton Nascimento, heim? Pois é, ele era o máximo, não dá mais para ouvir. E a Mercedes Soza? (Por que estamos falando dos outros? Por que falamos de coisas alheias a nós? Por que não falamos de nós? Não viemos aqui para isto? Por que não falamos de nós? Ele não quer falar de nós. Ele está evitando falar de nós. Ele não gostou de mim. Minha cara? minha voz? meu jeito? meu cheiro? minha pele? Sou feia? Sou chata? Sou burra? Não tenho TV em casa. É a falta da TV? Eu não vi todos os filmes? Não sou sofisticada. Não agradei. Não sou sexy. Não sou atraente. Não sou sensual. Sou sem graça. Sou travada.)

(Tô sentindo sua perna encostando na minha debaixo da mesa. Calma, fica calma. Muita calma nesta hora. Faz de conta que não está percebendo, faz de conta que não é a sua perna. Mas eu tô sentindo. Tem uma perna encostando na minha, e tá me dando vontades. Fica calma, Dirce. Ri. Ri. Ri. Faz de conta que não sente nada. Mas eu ESTOU SENTINDO!!!!)

Você está quieta. Não é nada não, só estou pensando (e tentando me controlar) (e você nem imagina em quê estou pensando, bobinho). Estou olhando este lugar. É gostosinho aqui, não é? Você gostou daqui? (você não gostou de mim, não é mesmo? E não sabe como vai fazer para resolver isto. Eu não era o que você esperava. Ficou decepcionado.)

(Por que esse povo todo não vai embora? O que essa gente toda ainda está fazendo aqui? Eu quero beijar, beijar muito. Muiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiittoooooooooo. Essa gente não vai embora nunca? Eu vou pular em cima da boca desse homem. Fica quieta, Dirce. Controle-se.)

(Por que estou feito uma boneca empalhada neste sofá? Tá, eu sou travada no começo. Não, não é isso, ele não gostou de mim. Ele está sem jeito de me dizer isso. Não, ele não vai dizer hoje. Meu deus, tô morrendo de vergonha, queria me enfiar debaixo da mesa e sumir. Por que não existe um pó mágico que faz a gente sumir? Ele se decepcionou. Fui reprovada, não passei no teste da pele. O teste da pele é o decisivo. Fui reprovada.)

(Que é isso?? A gente está se beijando?? A gente está se beijando?? Que beijo é esse? Que delícia!! Não, não pára. Não pára, não. Isso. Mais, mais, quero mais, muito mais.
Não, não vamos embora não. Vamos ficar aqui nos beijando até o dia amanhecer??)

Vamos embora, você está apagando. Você está morrendo de sono. (é verdade, eu apaguei, desliguei os meus neurônios, não fui aprovada. Deixa pra lá. Me deixe em casa, quero o meu travesseiro, quero a minha cama. Eu quero esquecer. Não fui aprovada. Não passei no confronto pessoal, no tete à tête.)

(É verdade, eu tinha prometido um café com vinho do Porto. Vinho do Porto? Pra quê? Deixa pra lá. Esquece, Dirce.)

“Obrigado pela noite agradável. Você é um encanto. BJS.” O prêmio de consolação do day after.

Então, eu sou simpática, atraente, bonita, inteligente, elegante e bem-humorada. Sim, é verdade, eu sou mesmo. E sou muito mais. Sou tudo isto e tudo aquilo que você não chegou a conhecer. Mas ...

Mas... meu cheiro não combina com o seu, minha pele não atraiu a sua, meus braços não são tão atraentes, minha boca não é tão provocante, meus seios não estavam à mostra, meus olhos, minhas pernas ... Tantos mas ...

Tola, estúpida, imbecil. Nunca aprendo? Sempre politicamente incorreta? Nunca vou decorar o Manual de Etiqueta da Rainha da Inglaterra? Tá escrito lá, no parágrafo 4, item dois, que versa sobre o Day After: “Depois de sair com um homem, se ele lhe enviar uma mensagem de agradecimento no celular pela noite agradável e pela pessoa encantadora que você é, finja-se de morta. Se não conseguir morrer, faça de conta que foi seqüestrada para o outro hemisfério. Lembre-se: noite agradável e pessoa encantadora equivalem a: você é legal, mas não faz meu tipo. Ponto. Nada de e-mails, telefonemas, torpedos, mensagens, etc. Seja politicamente correta e concretamente invisível. Se possível, evapore. Desfaça-se no ar, como uma nuvem.”

Para o Ano Novo, prometo decorar o Manual inteirinho.

Noite insone

Por Cyberella

Hoje, abrindo a carteira, encontrei uma foto sua. Devia estar lá há tempos, já nem me lembrava mais. Estranho olhar para você agora, meio amarelado, meio amarrotado, descascado, desbotado pelo tempo...
Não sei quanto tempo demorou para ficar assim, seu olhar apagado, esquecido no fundo da bolsa. Quanto tempo é preciso para se tornar amarrotado num fundo de bolsa? Anos, meses, semanas, dias, uma vida...?

Olho tua cara desbotada e me pergunto como você se resolveu sem mim. Como processou minha ausência, meu silêncio, meu cheiro nas tuas roupas, meus temperos na cozinha, meus perfumes no banheiro? De longe, e protegido pela luz da distância, me responde, como você resolve, ou não resolve, suas perdas? Será que houve alguma para você?

Aliás, foi bom ter surgido essa palavra assim, tão de repente. As minhas foram tantas, ao longo da vida, que às vezes desisto de contar. Mas desistir de contar não significa esquecer. É só uma questão de viver os lutos, conforme vão acontecendo em nossas vidas. Esse é o meu jeito de sair perdendo. Meu jeito mais sem jeito. Lembrando, pensando, chorando, refletindo, sentindo raiva, sentindo mágoa, sentindo saudade, sentindo fúria, sentindo ciúme, sentindo inveja, sentindo ódio, sentindo amor, sentindo tanto, pensando tanto, chorando tanto, revendo tanto, esquecendo tanto, lembrando, esquecendo de lembrar, chorando, chorando, chorando...
Até o dia em que chorar não acontece mais.

Não há caminho possível senão vivenciar a dança maluca dos sentimentos que afloram confusos, inoportunos, para que se identifique um a um e se veja o que é que sobra. Se sobrar, ótimo. Se não, jogamos tudo fora e começamos de novo. Só se enterra o morto depois de se ter chorado sobre o defunto.

Isso que faço agora aprendi com os animais feridos, que tantas vezes na vida socorri: lamber feridas; ao contrário de você, que prefere sempre encontrar alguém que as assopre. Sem dúvida, ter alguém que as assopre é bem melhor, a sensação de alívio é instantânea, mas como a natureza é sábia e os animais também, assoprar não cura, é preciso lamber o tempo todo, para que a cicatriz se feche, de dentro para fora. Com certeza, lamber dói mais, mas é cura certa. Um dia a ferida fecha e a gente nem se lembra mais da dor.

Soube que tua nova mulher é bastante sensata: advogada, gorda, e sofisticada. Nada pirada. Soube também que nunca pariu. Nem vai parir. Foi escolha tua, aposto. Útero preguiçoso. Me contaram que ela toma sorvete de limão e te deixa dormir em paz, não uiva pra lua, nem cheira tua cueca. Une femme comme il faut!

Acabo de me lembrar que a semana que vem é o teu aniversário. Pensei até em te ligar, mas a mulher do sorvete pode atender e azedar de vez a tua festa. Deixo pra lá.

E lá vem ele de novo, o meu desejo. Começa assim, sempre meio sorrateiro, não sei bem de onde vem. Se dos pés, do meu ventre arredondado, tantas vezes parido; se dos seios estufados, do cangote suado ou se do ciúme que sinto da anta estéril deitada amorfa na cama que já foi minha.

De olhos ainda fechados, imagino tua boca fina a beijar minha boca mediterrânea - la bella bocca fatta di zucchero e di cannella - sinto teu cheiro amoroso e me abro inteira para você. Devagar e sem graça, deslizo minhas mãos pela barriga. Minha pele arde e lateja. Te necessito em minhas urgências noturnas. Deslizo minhas mãos pelo meu corpo, como se fossem as tuas, procuro meus bicos intumescidos e meu sexo molhado na tentativa vã de iludi-los de que é você que volta. Mas você não volta.
Me afogo no travesseiro ao lado e adormeço entre soluços.

Preciso jogar tua foto no lixo.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Fera Ferida

Por Cyberella

E mais uma palavra surge, inesperada, entre nós dois: ANIMAL. Tudo o que você não foi e desejei ardentemente que fosse.

E hei-nos aqui ainda uma vez mais, diante de nossos dilemas existenciais, nossas fendas profundas, distâncias intransponíveis, diferenças abismais.

Chegamos ao cerne de nossos embates domésticos diários: eu querendo despertar teu lado animal e você, inutilmente, tentando aplacar a fera instintual que sou eu, especialmente nas noites quentes de lua e de mar.

Eu, o eterno animal, fera radical, mais para fera do que para racional; mais fêmea que mulher; mais bicho do que gente; mais instinto do que razão; mais odalisca que intelectual. A loba que lambe as feridas e uiva para a lua. Pés no chão e cabeça nas nuvens, como você bem sabe. A que mata e esfola pelas crias e pelas idéias.

Eu chupo o sangue direto da jugular. Entro no cio e pressinto teus anseios só pelo cheiro. Me lambuzo de esperma e durmo o sono dos anjos. Sobrevivo pelos meus instintos e pelos meus sentidos. Sou faro, visão, audição, apetites... Pele, cheiros e secreções. Sou risos e gargalhadas. Ritmos e cores. Ritos e rituais. Silêncios e meditações. Abismos profundos... Guizos e solidão.
A fêmea mulher.

Você se barbeia na hora certa, assobiando uma bossa-nova todas as manhãs. Nunca se esfola. Cumpre todos os compromissos e nunca se atrasa. Descasca meu mamão e me faz o ovo poché. Eu me maltrato e você me traz a erva-doce. Enquanto confiro minhas próprias formas debaixo das cobertas, você apara as unhas no banheiro. Do quarto ouço teu assobio despreocupado. Haja o que houver, a agenda será cumprida. Os lápis serão apontados, cuidadosamente, um a um à lâmina do estilete e ninguém mais poderá tocá-los. E as contas jamais serão esquecidas. Eu sufoco. Você lê as notícias em voz alta. Quero sempre mais. Você me serve a laranjada.

Sou atrevida, maluca, pirada. Deixo um bilhete safado no meio dos teus relatórios. Faço de propósito, só para te enlouquecer um pouco mais. Me diverte imaginar tua cara sem graça descobrindo meus desejos lascivos em meio a reuniões de diretoria.

“Senhores, estamos aqui para fechar o orçamento da obra, conforme nosso planejamento... um momentinho... um bilhetinho... hã hã hã ... como ia dizendo....”

Você me liga, puto da vida. Nem ligo.

E o que fez do teu tesão bem–educado, bem-comportado, bem-disciplinado, o teu tesão de menino-de-família-de-escola-de-engenharia? Tesão Pavlov, com dia e hora certos para jorrar.

Eu sempre soube de você, das tuas fraquezas, mas te perdoava por elas, achando que amar é ir além das fraquezas e por que eu mesma as tenho tantas. E de quê adiantou perdoar teus defeitos, se no final quem se ferrou fui eu, de toute façon ?
Você não suportou a alegria das sextas-feiras cheias de libido, nem a angústia dos domingos que se encerram lá atrás dos morros, vermelhos e preguiçosos. A tua alegria era o prazer pronto, desses a que a gente tem direito em bandeja de prata de hotel cinco estrelas.

E foi o que te sobrou: as estrelas, dos hotéis e dos talões de cheque.

Eu? Estou aqui, lambendo as feridas.

Com ressentimentos,

Eu.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Um pouco acima do peso

Por Cyberella


Engenheiro, divorciado, mora sozinho, fala inglês e italiano (o italiano deve ser mentirinha, ele deve enrolar, como todo mundo faz); renda não declarada( não deve ser um durango kid, as fotos são na neve, mas sabe-se lá de quando). Branco caucasiano, 58 anos, olhos castanhos, cabelos castanhos, 1,88m, um pouco acima do peso (quem não está um pouco acima do peso? Quem disse que o meu peso é o que está ali?). Busca Mulher (claro, com M maiúsculo), companheira, cúmplice, alegre, bem-humorada, resolvida, sem grilos com o passado (será que eu já li isso antes?!) e que goste de curtir as coisas boas da vida, como: viagens nos finais de semana, restaurantes, um bom vinho à luz de velas e andar de mãos dadas (Socorro!! Eu odeio bons vinhos, só gosto de assistir ao Faustão nos finais de semana e adoro aquele kibe gordurento do Jesus Está Chamando, o boteco lá da esquina.Tudo bem vai, deixa pra lá, homens são assim mesmo, sem um pingo de imaginação, todos escrevem as mesmas coisas.)
(22h00) - Gata, eu sei que estou um pouco atrasado, eu disse que te ligava às 19h00 e já são 22h00, mas olha, se você não ficar muito brava e não levar a mal, posso te pegar aí agora e vamos jantar. Saí para beber com amigos, tomamos uns drinks e nem vi a hora passar... Estou morrendo de fome. Você não quer me acompanhar no jantar? Juro que será a última vez que me atraso. Hoje é sábado e ainda são só dez horas.
(22h28) Que carro é esse? Acho que nunca entrei num carro desses... Uma Mercedes esportiva conversível 2009? Nossa, tá melhor que a carruagem da Cinderela!! ... rsrs ...
- Gata, onde quer jantar? Tô morrendo de fome. Sabe que você é bem bonita? Muito mais do que nas fotos! Mas, olha, de verdade, você é muito bonita mesmo.
(Meu deus, ele sabe que está uns 80 kg acima do peso? Será que é por isso que encheu a cara antes de vir me encontrar?)
(22h40) - Garçon, um Dom Pérignon, por favor. Vamos brindar ao nosso encontro.
(22h50) – Claro, um brinde ao nosso encontro!! Santé! (Cara, você é maluco?? Não sabe ler preços ou tá jogando dinheiro pela janela?? Dom Pérignon para brindar ao nosso encontro?)
(22h55)- Gata, você não é fraca, não. Santé! À sua inteligência!!
- Santé! À minha inteligência!
(23h10) - A esses olhos lindos! Santé!!!
- Obrigada. Santé!!!
(23h-25) - Gata, você dum é fraca dão ... Um brinde a sua inteligência!!!
- Obrigada. À minha inteligência!! Santé!!!
(23h35) – Sabe que seus olhos são lindos?
- Obrigada. Meu pai já dizia isso.
(23h45) – Gata, você dão é fraca dão ...Um brinde à sua beleza! Santé!!!
- Olha, vamos indo agora, já é meia-noite e meia, vamos pedir a conta?
- Conta? Dada disso, quero fazer buitos brindes a você.
- Vamos continuar brindando amanhã? Já está tarde, você já bebeu bastante.
(1h20) - Gata, zê duuuummm é fraaaca dãããooo ...Cê vai me acompanhar até em casa, vai me pôr na caminha, vai?
- Claro que vou. É só me dizer seu endereço, que te deixo em casa. Acho melhor chamarmos um táxi e deixarmos seu carro aqui. Amanhã você vem até aqui e pega o carro.
- Dada disso, cê vai didigindo. Já didigiu Mercedes antes?
- Mercedes? Nunca. Mas eu dirijo qualquer carro automático. Seu carro é automático?
(2h15) – Olha, a conta está aqui na sua frente, agora você precisa digitar os números da sua senha. Consegue lembrar-se da senha?
(2h22) – Ok, então vamos lá, dá o seu dedinho aqui que eu vou apertando eles no teclado da maquininha... Vai falando os números pra mim. Isso, 3... 7... 8...2 ...3 ... Ótimo. Parabéns, deu certo!!!
(2h24) – Gat, zê dão é faca dãããooo
– Isso mesmo, não sou fraca não. Garçon, me ajude a levar ele até o carro, tenho medo que ele escorregue e com esse tamanho eu não levanto ele do chão nunquinha. (Esse homem deve ter uns 150kg . Um pouco acima do peso ???)
- Bom, agora me fala, onde você mora, me dá seu endereço. Não se preocupe, eu dirijo bem.
(3h05) - Pronto, chegamos. Segura aqui no meu braço, isso mesmo, assim, assim, devagar, devagar, isso... Qual é o andar? A chave está aqui, junto com a do carro? Não é com chave, é cartão magnético??!!! Lembra a senha?
(3h15) - Pronto, pronto. Agora este pé, isso, muito bom. Agora esta perna. Excelente. Conseguimos tirar a calça. Pronto. Pronto. Não, não, não, eu não vou embora, só vou até o banheiro e já volto. Claro que vou dormir com você. Fique bem quietinho agora, feche os olhos que eu já volto, só vou até o banheiro.
(3h17) - Moço, o Sr. tem o telefone de um rádio táxi, por favor?
Domingo, 19h45min
- Gata, você não é fraca não. Quando a gente vai se ver de novo ?